quinta-feira, 12 de abril de 2012

Gravidez na adolescência e os conflitos psicológicos



Especialista afirma que após gravidez, adolescente tende a desenvolver cuidados maternos

O número de casos de gravidez na adolescência em Alagoas vem crescendo a cada ano. Em São José da Tapera não poderia ser diferente. Os dados oficiais do Conselho Tutelar mostram que as crianças e jovens deste município são vulneráveis a violência e inclusive a gravidez indesejada. Na maioria das vezes, pais, tios, primos, ou seja, pessoas mais próximas com idade de 15 a 32 anos são os agressores . Entre as denúncias, existem casos com pessoas acima de 48 anos de idade que também fazem parte do seio familiar.

Essa situação pode acarretar conflitos psicológicos nas adolescentes envolvidas e possivelmente atingirá diretamente no contexto familiar e social. Os cuidados devem ser dobrados no que diz respeito ao apoio moral para não acarretar sérios riscos a saúde mental. 

Entre Maio de 2011 á Abril 2012, onze casos foram registrados oficialmente na sede do Conselho Tutelar, mas esse número não condiz com a realidade dos casos extraoficiais que ocorrem no município entre jovens casais de namorados, como afirma o presidente do Conselho Tutelar, Diego Azevedo. “Sabemos dos casos extraoficiais de gravidez na adolescência que ocorrem no município de São José da Tapera, onde os mesmos não são informados ao Conselho Tutelar devido aos próprios pais dos adolescentes se incumbirem de resolver entre si tais questões, porém os casos informados são aqueles que necessitam de encaminhamento para reconhecimento de paternidade”.

Segundo informações, o Conselho Tutelar realiza palestras nas escolas municipais e diálogos com os pais para resultar em uma contribuição no que diz respeito a conscientização desses jovens.

Em entrevista, o psicólogo Antony Souza explica que “ A questão da gravidez precoce é alvo de profundas investigações, pois tem raízes no desenvolvimento pessoal; tanto no seio familiar quanto na construção vivencial no dia-a-dia do adolescente. Meios de comunicação mais fáceis, redes sociais, possibilidade de falsa “independência”, sexualidade precoce e exacerbada dentre outros aspectos em alguns casos podem distorcer valores e comprometer o desenvolvimento saudável do adolescente; sendo que muitas vezes o sexo passa a ser revelado de uma forma direcionada para promiscuidade, mesmo sendo algo natural”.

Muitos jovens ainda não perceberam o risco que correm ao não se prevenirem fazendo o uso de preservativos e anticoncepcionais. A prevenção além de evitar uma gravidez indesejada, ela também pode prevenir os jovens contra as terríveis DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) que são constantes em grande parte da população brasileira devido às relações sexuais desprotegidas.

A adolescente B.S.C de 14 anos, não esperava que seu namorado poderia abandoná-la ao saber da gravidez. Mas, uma outra situação ainda pior estava por vir. Ao fazer o pré-natal a adolescente descobriu que tinha contraído o HPV (papiloma vírus humano). “Eu fiquei surpresa ao contar para ele sobre a gravidez e ele jogar na minha cara que não poderia fazer nada. Que meu filho iria atrapalhar a vida dele. Fiquei arrasada! Escondi dos meus pais o quanto pude, mas tem uma hora que eles tem que saber. Minha mãe chorou muito e perguntou onde foi que ela errou comigo. Em lagrimas só pedi desculpas. De momento, a gente pense sim em tirar a criança por não saber o que fazer, por medo ou vergonha. Ao fazer o pré-natal descobri que estava com o HPV e mais uma vez, meu mundo desabou. Encontrei em minha mãe uma guerreira que enfrentou tudo e a todos em nome do meu filho. Hoje só tenho que agradecer a Deus. Do meu ex não espero nada. Quero que ele viva bem longe de mim, e do meu filho.” Confessou.

Quando uma jovem engravida na adolescência, isso pode significar uma grande perda nos estudos e gerar conflitos psicológicos em seu estado emocional. Se necessário um acompanhamento é viável para que a jovem consiga levar a gravidez com segurança como o caso da A.O.P, que encontrou uma série de dificuldades em seu dia-dia, inclusive no que se trata de conciliar a adolescência com os deveres maternos. “Eu não queria sair de casa e nem ir a escola. Fiquei em tempo de enlouquecer. Não entendia as mudanças em meu corpo. Tive vontade de me suicidar. É uma sensação de impotência. Precisei ter um acompanhamento psicológico e muita calma antes de tomar algumas decisões, pois o choro e o arrependimento não resultava mais efeitos. Depois que as coisas foram normalizando, que meu maridinho assumiu o meu filho e que nos casamos, a minha vida é só felicidade. Gosto de tudo, inclusive de ser mãe e dona de casa. Só agora eu sei o verdadeiro valor de uma mãe mesmo com pouca idade." Destaca.

A gravidez para algumas jovens é levada como uma continuação de uma vida normal. As mães dessas adolescentes assumem o papel de mãe atribuindo a si toda e qualquer responsabilidade, como é o caso da adolescente M. N .P. "Eu Sempre fui uma pessoa que gostava de sair com meus amigos e agora o dever me chama. Para sair de casa eu tenho que primeiro dar banho, mamadeira e deixar as outras feitas, só assim, a minha mãe me autoriza sair um pouco. Isso sem falar nas recomendações que dobraram. Mas, no fundo eu sei que se eu não fizer, ela faz por mim, afinal moro com ela e você sabe como é mãe.” disse

As jovens concordam que os enjoos na gravidez, as mudanças em seus corpos, além das noites mal dormidas e as vezes o choro dos filhos durante a madrugada inteira, são compensadas com os sorrisos fraternos e o amor incondicional de mãe para filho. E que as novas regras estabelecidas pelas suas mães, serão cumpridas a risco. Elas afirmam também que não estão arrependidas sobre a gravidez devido o apoio total de suas mães, mas salienta que as cobranças para o uso de métodos contraceptivos e da camisinha são constantes. Assuntos que eram tabus, hoje são comuns entre as gerações.

Este apoio da familiar para o psicólogo Antony Souza, é necessário para que a gestação ocorra de forma saudável e que essa criança cresça em um ambiente familiar de responsabilidades. “O papel da família é primordial como instituição social que acolhe e acompanha a adolescente quando se descobre a gravidez. Geralmente de início são comuns atitudes por parte dos pais como: incompreensão, rejeição, negação dado o momento sócio-cultural em que viverão, no entanto alguns tendem a reagir de um modo mais natural, mas isso não significa que não estejam abalados com a nova situação que se apresenta. Quando a adolescente descobre a gravidez alguns sentimentos são comuns: medo, ansiedade, angustia e em muitas vezes negação e rejeição pela mudança dupla que acontece em sua vida (gravidez e mudanças provenientes do adolescer), quando os pais descobrem também apresentando sentimentos semelhantes isso se agrava quando se trata de uma menina pré-adolescente e tem-se por consequência a falta de planejamento econômico/pessoal- familiar para chegada desse novo membro."

O psicologo Antony Souza salienta que durante a gravidez, a adolescente desenvolve ansiedade pelas mudanças, medo do parto, medo do desconhecido. "São mitos e tabus de como ser mãe que diminuem com o passar do tempo. Após a gravidez a adolescente se vê como mãe e não mais como menina, tende a desenvolver noções do cuidado materno, amamentação, tende a direcionar suas escolhas pessoais. Tende a primar pela segurança do seu filho até que amadureça e passe essa segurança para o mesmo." Finalizou



P/S: As iniciais das adolescentes foram trocadas para preservar as identidades das mesmas.


Quer saber mais matéria da Gracinha?



by
(-:Gracinha de Souza:-)

Nenhum comentário: