terça-feira, 26 de abril de 2011

Serra do Cruzeiro: A verdade por trás da história

A tradicional semana santa em São José da Tapera, foi um momento de fé com a encenação da peça teatral Paixão de Cristo que foi realizada pelas ruas da cidade. Fieis acompanharam de perto o "sofrimento de Cristo" vividos por taperenses. Vestidos a caráter, os atores amadores ganhavam atenção e admiração dos cristãs devido a bela apresentação.

Outro movimento religioso na cidade me chama atenção há muito anos. Por isso, para resgatar a cultura histórica e política da romaria sacra até a serra do cruzeiro, conhecida também como Serra Xitroá devemos nos aprofundar aos contextos.


Ao entrar ou sair de São José da Tapera, se observar no alto da serra você verá uma casinha, a casa do alto do cruzeiro que é denominada de "igrejinha". A serra do cruzeiro é um ambiente onde pessoas comuns e históricas de Tapera depositaram seus votos e pagaram suas promessas, uma tradição passada de geração em geração.

A serra possui um terreno muito íngreme e alguns poucos caminhos levam até o “cume”, onde hoje uma nova experiência foi realizada pela jornalista Gracinha de Souza e seus amigos, ao subir a serra de carro até próximo a casa de oração em pleno domingo de páscoa. Mas, o que os levavam a explorar esses campos vagos e sem registro histórico? A curiosidade em saber como a história começou. Para isso, encontrar os personagem da época seria o primeiro desafio, os demais seriam as respostas para as perguntas que viriam:

Quem construiu a casa de oração em cima da serra? Por que alguém construiria uma casa em um lugar tão alto? Por que os jovens no ensino fundamental e médio não tem informação à cerca de sua história?

Pois bem, vamos começar a história. Era uma vez... João de Mércia que foi um personagem muito importante na cidade de São José da Tapera. João casado com Mércia, uma das primeiras professoras de São José da Tapera, fez uma promessa que quando alcançada a graça de obter a cura de uma enfermidade em uma de suas filhas ele construiria uma casa de oração em cima da serra. João foi agraciado pela promessa e cumpriu com sua penitência.

A casa de oração que foi feita com muita devoção, serviu para muitos cidadãos pagarem as suas promessas pelas graças obtidas. Era comum encontrar na casinha membros do corpo que simbolizava as doenças curadas. Pernas, braços e cabeças feitos de madeiras, bonecos de pano, velas, cruzes, flores de plásticos entre outros, eram comuns serem deixados no oratório pelos fiéis. Reiteradas vezes a casa de orações também serviu como ambiente para consumo de drogas e outros atos libidinosos. Hoje se espera restaurar o lugar e resgatar o fato histórico e que seja posto nos anais da história de São José da Tapera. Será que a casa de oração foi desprezada pelo poder público durante muito tempo pelo fato de João ter sido um político da oposição histórica de São José da Tapera que culminou com seu assassinato?

Apesar do histórico violento, São José da Tapera não pode excluir de sua história um homem tão importante que fez frente ao governo da época e com suas ações contribui para história do município supramencionado até os dias de hoje. João, o pagador da promessa, foi assassinado na churrascaria Brasília junto de seu fiel companheiro Wellington Pinto Fontes (Vereador da época) e outro homem que supostamente era um eleitor seu. A morte foi o preço que o pagador da promessa teve que arcar para que hoje tivéssemos um destino diferente do que poderia ser. É justo que dois homens que foram de encontro com as forças políticas da época não tenham um dia em sua comemoração?

Seria justo que na semana santa fosse inserido no calendário escolar o dia do pagador da promessa, João de Mércia. Ainda seria interessante para o município de São José da Tapera fixar uma estátua do criador da casa de oração em uma de suas estradas. Resgatar a história de Tapera independente de inimizades políticas de outrora é uma maneira de perdoar os erros do passado e construir um novo futuro.

A cultura é a alma de um povo. Imaginemos que se algum dia um viajante perguntasse-nos quem construiu aquela casinha de oração que representa a fé do sertanejo petrificada no alto daquela serra e um de seus habitantes não soubesse responder, ele sairia com uma imagem negativa do taperense, pois mostraria que o taperense é um povo sem história, isto é, sem cultura.

Encontra-se em São José da Tapera uma escola denominada Wellington Pinto Fontes. É muito pouco para quem perdeu sua vida no embate político da década de oitenta, também, é preciso tratar esse assunto como um fato histórico que precisa ser valorizado com o passar do tempo e não ser banido da sociedade. São José da Tapera possui cinquenta anos de história e chegou a hora de iniciar uma nova visão dos fatos que marcaram a história desse município que tanto tem a progredir. Tapera vai alcançar seu desenvolvimento quando formos capazes de superar os atos de violência que ocorreram no município e passá-los a tratar como fatos históricos e não enredo político para beneficiar uma pequena parte dos que usufruem de forma egoísta onde suas lágrimas não convencem os contadores de história e sobreviventes da cultura acabrestada.

"João de Mércia foi um homem muito importante para São José da Tapera e inusitadamente ele não descansa em nosso solo. Seu corpo foi depositado em outra cidade, Cacimbinhas-AL. Entretanto, seu amigo Wellington Fontes se encontra junto de seus irmão no cemitério velho." Comenta o coveiro José Arculano.

Em uma cadeira junto de outros amigos numa roda de violão e muita alegria e bebidas, João sentado ao lado de José Arculano comentava uma partida de futebol do Guarani, assim lembra o coveiro. O coveiro senta ao lado da cova do ex-prefeito Ênio Ricardo Gomes e exemplifica como era as rodas dos amigos, ainda fala sobre Ênio e seu papel no município de São José da Tapera... As rodas dos amigos foram desfeitas, as conversas foram esquecidas, as histórias não foram escritas. Mas o sertanejo de São José da Tapera conta os "causos" com um brilho no olhar, uma emoção que a gente se sente personagem dessa época. A emoção de cada "causo" me permite sentir a sensação de estar ao lado, escrevendo, filmando e retratando os momentos históricos vividos pelas personalidades. Momentos de glória, de orgulho, de sofrimento, traição, violência, vingança, de briga pelo poder.

Logo, é preciso que o povo de São José da Tapera tome partido e fale para seus filhos quando eles perguntarem quem fez aquela casa na serra. Falem que foi um homem muito importante que perdeu sua vida para a política, mas antes pagou sua promessa de uma graça concedida através de um pedido de cura para sua filha enferma.

A serra do Cruzeiro pode ser o cartão postal de São José da Tapera com um teleférico, escadas, estátua, praças, lixeiras, enfim, só depende da participação de cada munícipes. Enquanto isso... Professores, pais, autoridades de São José da Tapera, conscientize a população com palestras, discursos, manifestações ou caminhadas à não deixarem o lixo jogado na serra. Devemos inclusive, contribuir com a proteção do ambiente histórico ao visitarmos a fonte de um relato da graça concebida por Deus a um de seus habitantes que descansa como um simples anônimo desta história, o João de Mércia, pagador da promessa.





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(-:Gracinha de Souza:-)

7 comentários:

Adriana Lemos disse...

Gracinha,

Escrevo esse comentário emocionada, pois após voltar à minha terra a trabalho tenho percebido que realmente poucos sabem a origem da igrejinha que meu pai construiu com muito sacrifício. Ele foi um homem muito digno, justo e muitíssimo admirado por todos que o conheceram. Além de ser o "João de Mércia", ele foi professor e advogado, apesar de ter tido pouco tempo pra exercer a profissão. Deixo aqui o meu abraço apertado a você por resgatar a história. E dizer que me fez chorar.

Adriana Lemos

Adriana Lemos disse...

Gracinha,

Escrevo esse comentário emocionada, pois após voltar à minha terra a trabalho tenho percebido que realmente poucos sabem a origem da igrejinha que meu pai construiu com muito sacrifício. Ele foi um homem muito digno, justo e muitíssimo admirado por todos que o conheceram. Além de ser o "João de Mércia", ele foi professor e advogado, apesar de ter tido pouco tempo pra exercer a profissão. Deixo aqui o meu abraço apertado a você por resgatar a história. E dizer que me fez chorar.

Adriana Lemos

laudeci disse...

Gracinha,é muito importante resgatar a historia do nosso municipio, parabens pela iniciativa,conheci o saudoso Joaõ Alves ou seja João de Mercia, era amigo da minha familia,ajudou muito meu pai,ao lado do saudoso Wellington, assisti de perto toda maldade que tirou a vida daqueles grandes homens , tb concordo com vc, ja deveriam ter prestado homenagens aqueles que lutaram e sonharam com uma sociedade melhor, justa e digna para todos.Não sei se vc já teve a oportunidade de ler o livro o " RESGATE",de Valdir, nele retrata toda a historia de São José da Tapera, onde tive a oportunidade de trabalhar ano passado a historia do nosso municipio,e tenho projeto tb para trabalhar este ano neste seguundo semestre, pois acho muito importante o resgate da nossa cultura. Laudeci Santos.

Gracinha de Souza disse...

Respondendo aqui também!


Pois é querida Adriana, eu sinceramente não esperava um comentário seu. Fiquei surpresa e lisonjeada. Ser a responsável por suas lágrimas me deixou feliz, pois isso prova o quanto fomos cautelosos em relatar um assunto tão delicado. O tempo se encarregou de curar as mágoas e fazer dos sentimentos bons um passaporte para a felicidade de ser filha do pagador da promessa. O João de Mércia, professor e advogado que com seu intelecto marcou a história política de São José da Tapera, uma terra marcada pelos poderosos que a sangue frio exterminam os que de voz ativa ameaçam os seus "tronos". Pelo poder essa gente é capaz de tudo, inclusive de comprar e vender a sua própria honra. Uma honra adquirida com sangue do passado. São ossos do ofício, uma tradição passada de pais para filhos onde a nova geração de certa forma é vítima, vítima da omissão e da posse dessa mesma "glória".



Atenciosamente


(-:Gracinha de Souza:-)

Gracinha de Souza disse...

Cara Laudeci, muito obrigada!

Com relação ao livro o "RESGATE", já ouvi falar. Acredito que tanto eu quanto boa parte dos cidadãos taperenses nunca o leram pelo fato do mesmo não ser acessível a população. Seria muito importante que o Valdir promovesse um dia exclusivo para a sua leitura ou que todos os professores trabalhassem o livro na sala de aula. Seria também de extrema importância que na biblioteca do município estivesse exemplares disponíveis para os alunos. Na medida que eles ficassem a par da história, os mesmos seriam capazes de tecer comentários e formar as suas próprias opiniões sobre os contextos históricos de nossa querida e sangrenta cidade, São José da Tapera.



Atenciosamente



(-:Gracinha de Souza:-)

laudeci disse...

Realmente Gracinha não houve uma grande divulgação deste trabalho,foi uma criação dele junto aos alunos da Escola João Paulo II. Os alunos ficaram com alguns exemplares, presentearam aos amigos mais proximos e o restante foram doados a biblioteca municipal,com o intuito de ser trabalhado nas salas de aula, pq não foi utilizado ,para este fim não saberei explicar.Mais posso afirmar que foi feita esta doação,a mais ou menos 5 anos atrás.

Gracinha de Souza disse...

Cara Laudecir, muito obrigada por essas informações.


Atenciosamente


(-:Gracinha de Souza:-)