segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Treine seu cerebro


Deixar a mente em ponto de bala é questão de prática. Porém, acima de tudo, é questão de saber exatamente o que praticar. Da música à alimentação, descubra como impulsionar o raciocínio, a memória, a atenção…

Quem nunca se perguntou como a cabeça, embora compacta, consegue armazenar, assimilar e processar tantas informações que queime o primeiro neurônio. Mas a notícia positiva é que essa questão pode ser respondida de maneira simples: a massa cinzenta utiliza cada uma de suas áreas para várias funções. Ou melhor, para tarefas genéricas que estão sempre presentes no nosso dia a dia, como raciocinar, expressar-se, movimentar-se e por aí vai. Em outras palavras, se você ativa uma dessas regiões, vai desenvolvê-la e, consequentemente, patrocinará todas as atividades influenciadas por ela.

O problema, no entanto, é saber quais atitudes podem culminar em melhoras significativas dentro do crânio. Afinal, nem tudo o que fazemos turbina a mente (veja o quadro à direita). Uma das coisas que vêm mais chamando a atenção dos cientistas é a música. Em uma revisão de artigos da Northwestern University, nos Estados Unidos, pesquisadores chegaram à conclusão de que tocar um instrumento aperfeiçoa a habilidade de guardar memórias e de conseguir permanecer atento por um bom período. “Manipular sons altera profundamente as conexões cerebrais”, reforça a SAÚDE! a neurobióloga Nina Kraus, uma das que assinam o trabalho. “Músicos também desenvolvem muito a área comunicativa, a capacidade de leitura e até o potencial para aprender uma língua estrangeira”, acrescenta.

Como se isso fosse pouco, quando você dedilha as cordas de um violão, por exemplo, está mexendo com a região motora primária, localizada no lado esquerdo da cachola. Então, contribuirá para aprimorar sua coordenação motora em diversos exercícios diários que exigem precisão. Por outro lado, o fato de conseguir tocar acordes na hora certa — ou saber usar uma baqueta para emitir sons com uma bateria — aprimora o que chamamos de ritmo. “Isso mexe com uma estrutura mais analítica do encéfalo, responsável também pelo pensamento lógico”, ensina Mauro Muszkat, neurologista da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp.

Muitos pesquisadores afirmam que, para afiar as células neuronais, o melhor a fazer é realizar atividades, como tocar flauta, em vez de deixar passivamente que o estímulo — a melodia de uma composição, por exemplo — chegue até o cérebro. Mesmo assim, o ato de ouvir uma canção, comprovam estudos e mais estudos, também dá um gás às habilidades cognitivas. “A música pré-ativa várias áreas cerebrais. Com isso, ela pode facilitar o processamento de uma segunda tarefa”, revela Muszkat, da Unifesp. Isso quer dizer que fica mais fácil se concentrar e ralar a valer logo após se deleitar com uma bela harmonia. Hoje, é bastante comum ver gente trabalhando com o fone de ouvido o dia inteiro. Essa atitude, todavia, não é para todos. “Quem se envolve demais com uma melodia pode perder a atenção”, contrapõe Renato Sabbatini, neurocientista da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista.

“FULANO ESTÁ ILUMINADO!”

Todo mundo já ouviu a expressão acima. E estar iluminado realmente dá um empurrão aos afazeres que envolvem o intelecto. Por mais incrível que pareça, estudos ao redor do mundo vêm provando que a luz é capaz de nos manter alertas. “Ela ativa o sistema nervoso como um todo”, esclarece o neurocientista Fernando Louzada, da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Esse efeito, no entanto, é transitório. Não vale se expor ao sol e, após algumas horas, achar que vai resolver rapidamente um complexo enigma em qualquer ambiente. Aqui, ainda devemos abrir espaço para outra ressalva: algumas pessoas lançam mão da claridade para driblar o sono. Aí, o tiro sai pela culatra. Afinal, uma das coisas mais importantes para manter o cérebro funcionando a todo vapor é passar tempo suficiente debaixo dos lençóis. “Quem dorme
pouco tem dificuldade para guardar recordações e resolver problemas lógicos”, atesta Louzada.

O QUE NÃO DÁ CERTO

Cientistas já desenvolveram programas de computador que potencializariam nossos neurônios. Ao solucionar problemas apresentados pelo software, a pessoa ficaria com a cabeça em forma. Infelizmente, pesquisas provaram que essa atitude não traz resultados. “O indivíduo incrementa sua performance só naquilo. E em nada mais”, explica Sonia Brucki, neurologista da Academia Brasileira de Neurologia, em São Paulo. O simples ato de decorar números de telefone e nomes tem o mesmo efeito. Ou seja, a pessoa passa a memorizar com mais facilidade, contudo não explora seu raciocínio ou qualquer outra coisa.


A MEDITAÇÃO

Essa prática milenar já foi tida como uma das estratégias mais certeiras para manter o encéfalo funcionando a contento. Hoje, ela é vista como uma auxiliar nesse processo. “A meditação prepara o cérebro para o aprendizado por ser relaxante”, relata Sabbatini, da Unicamp. Na verdade, seu efeito é temporário — pesquisas apontam resultados superiores apenas em tarefas cognitivas feitas logo após a sessão zen. Aventurarse em partituras, numa língua nova ou mesmo na prática de uma atividade física depende muito da força de vontade do indivíduo. Bastar querer e, claro, suar os neurônios para ter, por que não?, uma mente brilhante

UM É POUCO, DOIS É BOM

Revezar-se entre livros distintos pode auxiliar, e muito, a memória. “Recordar-se de dois enredos exige bastante do hipocampo”, constata o neurocientista Renato Sabbatini. E esse pedaço da massa cinzenta está encarregado exatamente do processamento das lembranças. Ao dar trabalho a ele, o espaço para estocar fatos se amplia. O único senão é que alguns indivíduos simplesmente não conseguem dar conta de Machado de Assis e Guimarães Rosa ao mesmo tempo. “É essencial armazenar as informações. Se essa simultaneidade está gerando confusão excessiva, talvez seja mais produtivo ler apenas um romance”, adverte Mauro Muszkat, neurologista da Unifesp.

O LADO POSITIVO DA MENTIRA

Para inventar uma história — e não ser pego com a boca na botija —, é necessário montar uma verdadeira estratégia de guerra. Uma pessoa não pode saber determinada versão, outra precisa conhecer somente um pedaço da narrativa... E para se lembrar de tudo então?! Todo esse exercício intelectual explica por que ludibriar os outros serve como treino para o sistema nervoso. “Alguns artigos apontam que a mentira pode, sim, aumentar a plasticidade neuronal”, revela o neurofisiologista Ricardo Mario Arida. Longe de nós querer incentivar atos desonestos. Para conquistar essa benesse sem prejudicar terceiros, invista em jogos que envolvem enganação, como detetive, truco e pôquer.

UM CHOQUE DO BEM

Por meio de eletrodos na cabeça, impulsos elétricos atingem áreas específicas da massa cinzenta. A técnica descrita atende pela alcunha de estimulação transcraniana e, de acordo com um artigo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, consegue incrementar nossas habilidades intelectuais. “Sua aplicação é só para fins terapêuticos. Pacientes com alguns tipos de demência talvez possam ser beneficiados com o procedimento”, afirma Sonia Brucki, da Academia Brasileira de Neurologia.

SÓ COM PRESCRIÇÃO

Recomendado inicialmente para indivíduos com déficit de atenção e hiperatividade, o metilfenidato acabou caindo na boca de estudantes que iam atrás de uma forcinha artificial para memorizar fórmulas, eventos históricos e tabelas químicas. Acontece que esse medicamento traz efeitos colaterais, inclusive para os neurônios. Além de viciante, ele pode provocar surtos psicóticos.

Fonte -Revista Saúde-uol



by
(-:Gracinha de Souza:-)

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